CAHIERS DU CINEMA | JEAN DOUCHET | ARTE DE AMAR | CINEMA
Originalmente publicada na revista Cahiers du Cinéma 126, dezembro de 1961; republicada na compilação L’Art d’aimer, Éditions de l’Étoile, 1987, A Arte de Amar de Jean Douchtet é uma reflexão sobre a critica como manifestação de uma paixão que não se cala elevando-a para além de um mero comentário ou análise em um espaço onde autor e crítico se confundem e juntos dão vida a arte.
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O QUE É A CAHIERS DU CINEMA?
A Cahiers du Cinéma é uma renomada revista de cinema francês que desempenhou um papel fundamental na história do cinema. Fundada em 1951 por André Bazin e Jacques Doniol-Valcroze, atuou de forma revolucionária se tornando um ponto de encontro para jovens cineastas, teóricos e críticos de cinema que estavam interessados em discutir e analisar o cinema de forma mais aprofundada sua sendo esta última sua característica mais marcante sua abordagem intelectual e teórica do cinema, que ia além da simples avaliação dos aspectos técnicos de um filme, e sua atenção aos detalhes e nuances da linguagem cinematográfica deram a Cahiers seu seus status que permanecem até hoje e um legado que atravessou gerações e reescreveu a forma como analisar e fazer cinema.
A revista desempenhou um papel importante na Nouvelle Vague, um movimento cinematográfico revolucionário que surgiu na década de 1950 na França. Entre as suas principais contribuições podemos citar a defesa da ideia de que o cinema é uma forma de arte e a promoção da política dos autores. Isso significava que os críticos acreditavam que um filme deveria ser julgado pela visão única de seu diretor, em vez de ser avaliado por padrões preestabelecidos. Além disso, os Cahiers du Cinéma também foram responsáveis por lançar e popularizar a carreira de diversos diretores franceses importantes, e que trabalharam com críticos no corpo da redação, como François Truffaut, Jean-Luc Godard, Jean Douchet, Eric Rohmer e Claude Chabrol, que mais tarde se tornaram cineastas aclamados, foram influentes na definição dos princípios estéticos e teóricos da Nouvelle Vague.
QUEM É JEAN DOUCHET?
Jean Douchet é conhecido pelo seu trabalho com a critica cinematográfica, porém ele também atuou como historiador , cineasta e como professor de francêsᴬ. Suas críticas foram perpetuadas e ganharam força e importância na revista Cahiers du Cinéma, uma das revistas mais importantes para Nouvelle Vague e a New Wave Francesa. Douchet não era um teórico mas um apaixonado e isso é notado em sua coletânea intitulada A Arte de Amar, com fragmentos presentes nesse texto.
O QUE É A CRÍTICA E QUAL É A SUA IMPORTÂNCIA ?
A principal mensagem e sua carta "A ARTE DE AMAR" é clara, é mais do que uma exaltação ou uma declaração puramente apaixonada e traz em si a importância da crítica como uma forma de amar a arte, perpetuar e de lhe conferir certo valor. Douchet exerce exatamente o que seu texto sugere, ele traz uma paixão pautada em um raciocínio lógico, cheio de consciência mas coberto também de uma expressão sentimental e que pode ser captado através de suas palavras.
Talvez o que seja mais caro ao crítico em Douchet parece saltar em perfeita naturalidade, a crítica como uma paixão que busca equilibrar o amor pela arte com a lucidez, uma paixão consciente desperta através dos sentimentos, trazendo esse senso de que o crítico é um duplo e por esse caráter se faz necessário que esses dois elementos, essas duas forças que agem sobre o crítico estejam equilibradas, é o maior desafio e uma busca constante e necessária. Em suas próprias palavras ele diz que a crítica “... é a arte de amar. Ela é o fruto de uma paixão que não se deixa devorar por si mesma, mas aspira ao controle de uma vigilante lucidez. Ela consiste em uma pesquisa incansável da harmonia no interior da dupla paixão-lucidez. Um dos dois termos sendo mais forte que o outro, a crítica perde uma grande parte de seu valor. É necessário que ela possua esses dois motores.” (Jean Douchet, 1987).
O autor ainda destaca que a existência material de uma obra de arte por si só não tem valor intrínseco. É por meio da crítica, do reconhecimento e da apreciação de amadores e entusiastas, que obras ignoradas e artistas esquecidos podem ser redescobertos e valorizados. Essa ideia sugere que a crítica é fundamental para o resgate e a preservação do verdadeiro valor das obras de arte.
Para Jean D. a importância da crítica está ligada diretamente à existência e valorização da arte. Ele afirma que “ … a arte tem uma necessidade vital da crítica. Sem ela, a arte não pode existir. E isso de duas formas. Primeiro, uma obra de arte morre, se não se desencadear, por seu intermédio, um contato entre duas sensibilidades, a do artista que concebeu a obra e a do amador que a aprecia.” (Jean Douchet, 1987), através dele entendemos que uma obra de arte só ganha vida quando há um contato entre o artista e o apreciador, essa troca de “sensibilidades” que dá significado e o valor às obras. É necessário que haja um receptor que perceba e perpetue a obra, que dê sentido, razão de existir tornando-a viva.
Mas a crítica possui suas responsabilidades ela antes de tudo precisa ser uma criadora, além de captar e prolongar a vida da obra saindo da tela e ganhando extensões através do público, ela deve fazer refletir sobre o objeto e o artista, fazer sentir, levantar questões, precisa ser algo além das telas.
"a crítica torna-se sinônimo de invenção, no sentido corrente do termo e no de descoberta. A verdadeira crítica “inventa” uma obra, com se faria com um tesouro: ela capta, mantém e prolonga sua vitalidade. Ela descobre, por um incessante requestionamento, o valor dos artistas e da arte. Ela pertence indissoluvelmente ao domínio da criação e, arte ela própria, torna-se criativa” e assim ela serve a arte, ela ser torna necessária como essa força criadora, inovadora onde “ela se encontra no princípio mesmo da atividade artística. ‘Toda arte deve criticar alguma coisa’, diz Fritz Lang”. (Jean Douchet, 1987)
CRIADOR E O OBJETO
A Interpretação de Jean Douchet sobre o processo de criação talvez seja de longe o mais didático e que melhor apresenta essa dialética que envolve a obra e o sujeito receptivo, ele fala “Para o artista, criar uma forma é fazer passar o todo sensível, consciente ou inconsciente, de um sujeito receptivo (ele mesmo) num objeto (a obra). Por um movimento dialético mais sentido que refletido (mesmo que nos maiores os dois caminhem ao par), é preciso considerar ora o sujeito e passar no crivo as sensações que ele deseja transmitir, ou seja se criticar, ora o objeto e examinar a qualidade de sua percepção e de seu resultado. É o método sensível do conhecimento que se resolve na e pela forma”.
A forma é descrita como o elemento dinâmico ao qual o artista dedica seu controle interior, moldando-a até que ela se torne o signo sensível e evidente de sua existência única não pertence ao artista, mas é derivada da arte na qual ele sente a necessidade de se expressar. No entanto, uma vez alcançada essa forma, o artista deve abandoná-la e permitir que ela siga seu próprio caminho na corrente da arte. Jean destaca o papel da crítica na compreensão e explicação da arte, e supõe que a crítica não se limita apenas a avaliar o trabalho do artista, mas busca compreender a natureza e revelar a sua essência ao mesmo tempo que revela o artista, mergulhando no mistério da arte.
“Pois, além do artista, a crítica visa a compreender e mesmo explicar a arte. Em seu movimento de ida e volta, no qual consiste seu acesso a uma obra, ela tende sobretudo a atingir o gênio e a natureza de uma arte. É em nome dela que se explicam suas admirações e suas recusas. Por pouco que a crítica tenha a impressão de que o artista quer lhe impor a sobrevivência de sua sensibilidade por efeitos deformadores, contrários à natureza de sua arte, sua própria sensibilidade se ergue e rejeita a obra.” (Jean Douchet, 1987)
Claro que o papel de crítico se entrelaça e se confunde ao do artista com uma posição paradoxalmente contraditória seguem seus destinos, mas como força motriz a criação e a inovação que impulsiona a própria arte para um novo patamar criando novas configurações:
Só o artista prova a arte criando. O amador e o crítico só podem se apoderar da ideia, sentir intuitivamente sua natureza. Eis uma limitação que contradiria o que eu dizia anteriormente sobre a crítica criadora. Não exatamente, entretanto, pois eu penso que o artista é primeiro e antes de tudo um crítico... que foi bem-sucedido, e que a crítica ligada intimamente à arte só se realiza plenamente nele. Um sobrevoo histórico da evolução das artes mostra aliás que foram os próprios artistas que secretam a crítica enquanto função independente. No começo de uma arte, ou do renascimento de uma arte, crítica e arte se confundem. (Jean Douchet, 1987)
A crítica é apresentada como uma expressão da sensibilidade do crítico, onde ele se compromete emocionalmente e intelectualmente com a análise e avaliação da obra. Assim como o artista, a obra de arte e a própria arte são traídos ou revelados através da crítica.
A crítica, se ela é praticada com nobreza, atinge sua vocação primeira, tornando-se ela mesma uma arte. A sensibilidade do crítico em suas relações com o mundo faz com que ele se empenhe inteiramente, diante da obra, diante do mundo. Uma crítica trai tanto, ou mais, seu autor quanto o artista, a obra e a arte à qual ela se refere. Daí que a crítica é costumeiramente tão incompreendida quanto a arte. (Jean Douchet, 1987)
MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O TEXTO
O texto A Arte de Amar foi disponibilizado pelo Artur Tuoto na Oficina de Crítica de Cinema 2023 e compartilhado com os alunos.
4 Comentários
Adorei o texto! Notei que dispoibilizou o PDF muito obrigado!
ResponderExcluirDisponha, creio que para ter uma ideia clara nada melhor do que ler o texto original 🙂
ExcluirGostei,bem escrito e explicado.
ResponderExcluirObrigado em breve falarei mais sobre o tema ^^
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