Universum Librarium Adverte! Esse texto não tem o intuito de focar em como nasceu, mas falar sobre alguns pontos desconhecidos durante o nascimento. Dito isso, vamos explorar!
Sabemos que a história dos quadrinhos se divide em escalas chamadas Eras — Era de Ouro, Era de Prata, Era de Bronze e a Era Moderna. Essa forma de divisão criada deixa evidente algumas características da sua época como o estilo de vida, vestimentas, pensamentos e que refletem os leitores e suas preferências além de nos deixar um norte do funcionamento do mercado de comics no passado. Sabemos que a vida imita a arte e a arte imita a vida, e com os quadrinhos ocorrem o mesmo. A arte é um mecanismo vivo e capta os códigos e características de sua época.
O que precisamos entender é que cada período foi marcado por um comportamento industrial, estético e estilístico diferente e quando falamos da Era de Ouro, estamos nos referindo a um dos momentos mais importantes da história dos Comics, conhecido como o primeiro grande surto de popularidade para os super-heróis¹.
Marcado pela chegada a Action Comics Nº1 às bancas dos Estados Unidos em Abril de 1938, a Era dos Heróis ou a grande era de ouro nasce com o Superman para mudar a indústria e atrair apaixonados. A narrativa desse período é totalmente diferente da que estamos acostumados hoje, eram mais engessadas e explicativas com recordatórios que serviam para direcionar o leitor.
Devido ao grande sucesso das Action Comics, surgiram novas revistas com as mesmas propostas, o arquétipo de super-heróis, com códigos e em favor do bem comum. Dentre eles destacam-se Batman, Mulher-Maravilha, Capitão América, etc.
Enquanto o mercado editorial de gibis crescia devido à popularidade dos heróis, surgia a necessidade de mãos hábeis e cérebros criativos para manter o público abastecido, surgindo os estúdios de artistas independentes nas ruas de Nova York. Foi estabelecida uma relação entre Editora-Estúdios que abriram portas para os grandes nomes que conhecemos hoje como Will Eisner, que chegou a fundar seu próprio estúdio Eisner & Iger (Ou Universal Phoenix Syndicate). Essa relação de Editora-Estúdio foi uma das grandes contribuintes para o crescimento do gênero e um laboratório experimental para novos artistas.
Como toda luz cria a sua sombra, uma das grandes características dessa época foram as vendas de materiais por valores bem abaixo e a falta de crédito para esses artistas que alimentavam a indústria. Temos relatos de contratos injustos, de abuso por partes das editoras em relação aos criadores e artistas que torna o outro lado da história um tanto sujo. Siegel e Shuster a dupla que definiu a abertura de um campo promissor nas áreas dos quadrinhos, que colaboraram para grande era dos Super, que deram início a Era Dourada, não ficaram imunes a podridão dessa mesma industria. Chegaram a receber meros 10 dólares por páginas, totalizando 130 dólares pelo Action Comics Nº1. Mas devemos deixar essa história para outro post 😏
Na Era de Ouro estava impresso traços da Grande Depressão² que foi de 1929 – 1939 (e que também recebe o nome de A Crise de 1929) que teve início graças ao projeto de implantação do crédito pelo governo americano em 1920, dentre as principais consequências estão a fome, desemprego e o aumento da violência. É importante também relatar que além da Crise de 1929 a grande era dourada conheceu a fase entre guerras (fim da Primeira Guerra Mundial e o romper da Segunda Guerra 1918 – 1939).
Era quase impossível não ter a presença de ruas violentas com tanto desemprego e desesperança, faltava-lhes agora alguém que lhes fizessem acreditar em um mundo melhor. Chega o Super-Homem que combate injustiças e ajuda pessoas, um salvador em meio ao caos do mundo, ele era uma reação humanista e audaciosa aos temores de sua época³, que não teme a violência das ruas e protege pessoas indefesas. Superman traz em suas histórias os horrores das ruas, o contexto da realidade retratada em seus quadros, observamos nos personagens o medo e a insegurança. A capa não deixa claro se o que lhes assusta é o homem sobrenatural ou o crime que estava ocorrendo antes (quadro abaixo).
capa da Action Comics Nº1 |
O próprio nome do Super e sua origem se mesclam com as dos seus criadores e saltam das páginas cobertos de significados. “Kal-El” nome de nascimento em krypton significa a “voz de Deus” em uma interpretação do Hebraico. Assim como seus criadores Kal-El é um refugiado em terras americanas que vê nesse solo uma oportunidade de recomeçar.
Em sua essencia , o Super-Homem é um Messias da tradição bíblica, que também pode ser visto como uma metáfora para assimilação dos judeus nos Estados Unidos. A destruição de Krypton é uma metáfora adequada para a que levou a Diáspora,bem como para o ataque às comunidades judaicas da Europa, o que levou à imigração em massa para os Estados Unidos no final do século 19.
- Christopher Knowles⁴
Creio que a única pergunta que permanece em nossas mentes, que levamos em nossos corações e que persiste por décadas e décadas é — Porquê uma cueca em cima da roupa?
Segundo Grant Morrison a explicação é que “as cuecas sobre as calças eram significantes de força e resistência ultramasculinas em 1938”. Mas nem as cuecas em cima da roupa impediram o sucesso e a longevidade do personagem, sua propagação e seu legado, mesmo hoje, a sua influência e seu significado persistem — Esperança e o triunfo do bem sob o mal.
Para mais posts como esse deixe nos comentários a sua opinião! Até a próxima viagem.
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Fontes:
J. Robb, Brian. Identidades Secretas dos Super-Heróis. 1º Edição. Rio de Janeiro, 2017.
Knowles, Christopher. Nossos Deuses são Heróis.São Paulo, 2008.
Morrison, Grant. Superdeuses. São Paulo, 2012.
¹-J. Robb, Brian. Identidades Secretas dos Super-Heróis. 1º Edição. Rio de Janeiro, 2017.Pág, 50.
¹-J. Robb, Brian. Identidades Secretas dos Super-Heróis. 1º Edição. Rio de Janeiro, 2017.Pág, 50.
²-A Grande Depresão. A Grande Depressão, também conhecida como Crise de 1929, foi a maior crise financeira da história dos Estados Unidos, que teve início em 1929 e persistiu ao longo da década de 1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. (Wikipedia)
³-Morrison, Grant. Superdeuses. São Paulo, 2012. Pág. 23, parágrafo 2.
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