Fanzine e o Movimento Punk

Fanzine e o Movimento punk

Tenho certeza que você já deve ter ouvido esse termo em algum lugar, pois é bem comum na comunidade nerd, e vem aparecendo muito na internet, mas o quê que é uma fanzine, qual é sua importância e como surgiu é algo que considero interessante e que vale uma exploração.

O Que é uma Fanzine?

Antes de irmos para os fatores históricos, devemos primeiro estabelecer a sua definição. O termo Fanzine, vem da aglutinação de duas palavras da língua inglesa Fanatic e Magazine e se traduz como uma revista de fã e que tinha a intenção de ser um meio de comunicação alternativo, jovem e livre, pois não se prendia aos padrões impostos pela sociedade.

As primeiras Fanzines apareceram por volta da década de 30 nos Estados Unidos com autores de Ficção Científica, que viam nessa mídia alternativa uma forma de divulgar seus trabalhos, pois o conteúdo era classificado como subcultura ou subliteratura e não encontrava espaço na grande mídia, se tornando então o único meio de fazer com que o conteúdo chegasse àqueles que nutriam interesse. Elas só ganharam notoriedade na década de 70 explodindo em meio ao Movimento Punk.

A Resistência é a grande marca desse formato de publicação, que sempre teve associado a sua natureza a expressão artística e a crítica ao sistema. Alguns estudiosos ainda definem a fanzine como um dos modelos de contracultura.

Hoje em dia o termo Fanzine serve para nomear qualquer publicação caseira, amadora e sem fins lucrativos deixando de lado esse caráter mais expressivo, agressivo e crítico que era voltado contra o sistema e se tornando cada vez mais brando e artístico.

Característica das Fanzines:

Uma das características mais importantes das fanzines é que seus editores se encarregam de todo o processo de produção. Desde a concepção da ideia até a coleta de informações, a diagramação, composição, a ilustração, a montagem, a paginação, a divulgação, a distribuição e a venda, tudo passa pelo domínio do editor, que aprende a lidar com o produto jornalístico de uma forma global. O controle de todo o processo editorial, embora exija mais tempo e habilidade, dá ao editor maior liberdade de criação e execução da ideia. (MAGALHÃES, 2013, p. 45.)

Alguns pontos a ressaltar das fanzines são que:

Possuem tiragem menor;
A sua produção e distribuição é feita pelo artista, como já citado por Magalhães;
Ela é feita de maneira independente e com os recursos disponíveis;
Ela pode ser feita por qualquer pessoa, pode ser textual, poética, fotográfica, recorte, ela agora possui uma identidade flexível, podendo assumir diversos estilos e depende da alma do artista e da sua escolha de expressão.

Lembrando que a fanzine assume esse lado camaleão experimental, abusando da liberdade de expressão para que o artista possa desenvolver as suas técnicas e testar novos estilos.

Mas como se relaciona o Movimento Punk e as fanzines?

Fatores Históricos

As fanzines ganharam notoriedade na década de 70 em meio ao movimento Punk e elas tiveram influência também das Pulps Fictions da década de 30 com as suas revistas de Ficção científica.

Essa relação com o Punk começa ali com o lema " Do It Yourself " ou do faça você mesmo, traduzindo para o português. O que havia começado no meio musical acabou se estendendo para as outras formas de comunicação e o "faça você mesmo" se tornou a marca de jovens que queriam ser representados e não viam nos meios comuns uma abertura para expressar opiniões, tendo que recorrer a uma nova forma. A inovação também é uma grande marca desse movimento, pois foi necessário se reinventarem para que pudessem ter voz dando início a um novo movimento chamado Punk.

Bivar (1982), o punk transformou-se em um “movimento de revolta adolescente”, de “uma geração insatisfeita com tudo, invocando o espírito de mudança”, aparecendo como uma crítica e um ataque contra a sociedade exploradora, que estava mergulhada em seus próprios vícios.

Então era necessário ter uma nova forma de manifestação de arte; de surgir um novo cenário para abrigar essa mudança e expor seus pensamentos dessa juventude e dentro dessa nova manifestação tem muito da crítica, da busca da arte pura de apaixonados para outros apaixonados,

Surgia então uma nova questão — como fazer essa nova arte sem o auxílio da indústria? Entrando o DIY como forma de produção independente e surgindo o fazer artesanal, o caseiro entra em cena.

Na década de 80 começa a disseminação das revistas de Músicas com a tendência punk na moda e também a desconstrução dele deixando em evidência apenas o caráter agressivo e violento, então ele passa por altos e baixos até voltar a essência primária e dessa vez com a comunicação exercendo um grande papel deixando de lado apenas o formato musical.

Agora temos uma mídia alternativa e que surge com uma nova roupagem — A expressão de Opinião e a contribuição artística independente atuando em diversos meios de comunicação e de maneira dissertativa e ela se transforma nessa Criação livre e radical- porque ela oferece visões diferenciadas das entregues pela mídia politizada e pela indústria.

A Fanzine é uma forma de libertação porque nelas é possível encontrar formas de colocar para fora ideias e debater, e mais de se expressar como foi dito anteriormente ela é um veículo da democratização da comunicação qualquer pessoa pode fazer, nela se encontra um espaço de comunicação interpessoal com o objetivo de troca e uma troca livre sem controle de a e b.

E o mais incrível ela mostra um caminho para o apaixonado demonstrar seu amor e também se tornar criador.

Através da Zines se torna acessível à criação de distribuição de uma obra que sairia muitas vezes caro por outros meios ou nem sairia e acaba encontrando um meio de divulgação barato e possível, é bem comum vermos quadrinhos dentro desse formato justamente por facilitar a sua produção e claro com menos custo apesar de saírem tiragens menores, ela consegue atender a necessidade do artista de promover a sua arte e a do público de conter algo com um preço em conta isso quando existe uma cobrança, porque é variável.

O Movimento Punk

O Punk começou como uma forma de expressão artística e movimento contracultural, encabeçado por jovens dos Estados Unidos na década de 70. O movimento deu início com bandas formadas por jovens de classe média que criticavam a sociedade através de suas letras e adorando estilo de cabelos e roupas que contrariavam a moda vigente na época. A palavra “punk” é uma expressão da língua inglesa que é usada para classificar um indivíduo ou grupo urbano antissocial que se desviava dos padrões normativos de conduta.

Estão impressos nesse movimento o sarcasmo, acidez crítica, e as ideias base do que passou a ser chamado cultura “punk” eram o pessimismo, o antiautoritarismo, a ideologia anárquica e o igualitarismo. Além da luta contra o consumismo, o que explica o uso do jeans gasto, que era uma forma de demonstrar a sua revolta contra o consumismo desnecessário e retratar a atual situação carente em que o país se encontrava.

Apesar de ter nascido nos Estados Unidos, foi na Inglaterra que o movimento foi consolidado e ganhou força. E através das suas letras os jovens britânicos encontraram uma forma de ganhar voz.

Não podemos esquecer claro da grande pregação do movimento "DO IT YOURSEF"—Faça Você Mesmo, que defendia que se quisessem algo bem feito, ou quisessem algo eles mesmos podiam fazer, sem a ajuda das grandes corporações ou do próprio governo o que lhes conferia autonomia.

Principais Bandas do Movimento:

Podemos citar como principais bandas O Ramones, considerados os precursores do movimento a banda nasceu em 1974 e possui uma composição musical considerada simples, entre as suas músicas de destaque está Believe in Miracles e Pet Sematary.

Entre as bandas britânicas de destaques está Sex Pistols, nascida em Londres em 1975, com músicas polêmicas na carteira musical como Save The Queen e Anarchy in the U.K entre outras.

E não podia faltar os representantes brasileiros do cenário, as bandas de mais conhecidas são Colisão Social, Ratos de Porão, Herdeiros da revolta, etc.

Movimento Punk No Brasil

No Brasil o movimento chegou no final da década de 70, mantendo a linha, porém o cenário brasileiro estava no auge da Ditadura Militar, e o inconformismo político não podia ser maior.

Nesse ambiente nascia em São Paulo bandas as bandas Restos de nada e AI-5, pelo nome já é possível imaginar a petulância desses jovens, a ousadia e sarcasmo presente.

Aqui o movimento ainda apresentava as mesmas bases do exterior, se opondo a mídia, as formas de governo autoritária e ditatorial, além de buscar uma liberdade individual, grupos derivados como o Anarco punk ainda trazia a luta contra o machismo e a homofobia.

Buscando uma mudança social e querendo divulgar as suas ideias, o movimento necessitava de uma mídia alternativa para ser possível essa propagação.

O Fanzine, entra como mídia alternativa e possível. Os primeiros zines brasileiros são Punks, e que apesar da repressão conseguiram por seus próprios meios alavancarem e ter seu espaço.

O Fim do Mundo

Evento Organizado por Bivar em 1982, nos dias 27 e 28 de novembro, tinha o objetivo de unir grupos e facções punks do ABC paulista que estavam em constante conflito. Entre os materiais expostos estavam discos, fanzines e filmes.

Antônio Bivar

O evento contou com a participação da SESC- Serviço Social do Comércio, o que causou estranheza e desconfiança nos músicos, pois estavam acostumados a tocar em condições sem tanta pompa, porém o evento se mostrou uma oportunidade do movimento mostrar a sua cara para um público mais amplo.

Fontes :

MAGALHÃES, Henrique. O rebuliço apaixonante dos fanzines. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2011

Regina Rossetti1 David Santoro Junior . Fanzine Punk Como Mídia Alternativa. Grupo de Estudos Alterjor: Jornalismo Popular e Alternativo (ECA-USP) ,Dezembro de 2014.

História em Quadrinhos e Práticas Educativas. 2013, Com a participação de Edgar Guimarães. Fanzines de Histórias em Quadrinhos: Conceitos e Contribuições a Educação. p 52 -67.

Bivar, Antônio. O Punk. Livro sobre o movimento Punk.