Esse quadro de hoje receberá um quadrinho incrível para as nossas explorações e a ideia de falar sobre ele surgiu durante uma leitura em conjunto trazido pelo @paginas e porradas evento realizado na Twitch e é apresentado pelo Rodz, todas as Terças e Quintas- feira. Essa leitura gerou um ótimo gancho e claro uma oportunidade para explorar e ir além de uma leitura.
Esse quadrinho foi escrito por J.M. Dematteis e foi baseado em um poema chamado O Tigre de William Blake e esse poema aborda a coexistência do bem e do mal, da dualidade existente em um mesmo ser, depois falaremos mais sobre esse poema.
Dematteis queria escrever algo que tivesse impacto e que tivesse morte e ressurreição ou pelo menos que trouxesse essa ideia, originalmente Dematteis pensou essa série com outro protagonista e claro e com uma execução um pouco diferente da que vemos aqui, o personagem era Magnum e ele estaria de volta da terra dos mortos meses depois e volta a superfície abrindo o caixão em que estava, mas a história foi rejeitada pelo Editor da Marvel na época Tom De Falco e Dematteis então teve a oportunidade de adaptar a história e de ajustar mais alguns pontos e partir em busca de uma aprovação. Ele partiu em busca mais uma vez de aprovação para a sua história mas foi rejeitado porque A DC já estava com um projeto em andamento que trazia essa mesma pegada mais madura com o Batman, estamos falando de A Piada Mortal e por isso o projeto não pode ser publicado e nem o personagem Batman ser utilizado para essa história. Mas Dematteis não parou aí, e ainda bem !
Em 1986 foi oferecido a ele a oportunidade de trabalhar com o Cabeça de Teia r finalmente tirar da pasta a sua ideia de ter um herói saindo do túmulo. Ele tinha agora um herói para ressurgir das profundezas da terra, mas faltava o vilão. Ele pensou em desenvolver um novo super vilão para matar o nosso herói, mas isso até conhecer Kraven e ler sobre a sua história e um dos pontos de que lhe chamou atenção foi o fato dele ser Russo e isso fez Dematteis se encantar pois um dos seus autores favoritos nasceu lá, Dostoiévsky- autor que soube melhor sobre retratar a humanidade, falhas e acertos e sobre expor a dualidade existente na alma humana, então ele compreendeu que Sergei Kravinov era perfeito para desempenhar um papel brilhante na história e mais uma vez ele alterou o roteiro e ele diz "EU COMPREENDI SERGEI KRAVINOV . NUM INSTANTE, A HISTORIA INTEIRA MUDOU DE FOCO. CHAMEI JIM OWSLEY E PEDI QUE ELE ESQUECESSE O NOVO VILÃO. AQUELA SERIA UMA HISTORIA DE KRAVEN O CAÇADOR "
Essa história consigo dividir essa história em três fases :
1- O RASO:
Nesse primeiro momento da história temos os personagens e seus pensamentos expostos mas os personagens não encaram, nem se aprofundam muito nas questões pessoais eles apenas reconhecem e dão nomes aos bois.
"No começo eu fui ingênuo. Pensei que se tratasse de um homem. Mas não poderia ser um homem.Ninguém seria capaz de fazer a Kraven o que a Aranha fez... Ninguém ...Você existe pra me testar, não? Pra zombar de mim e me desafiar. E Eu não posso descansar até ter provado meu valor. Até destruir você..."
Kraven se vê submergido em um mar aranhas, sufocado pelo seu medo e depois disso as luzes se apagam e temos apenas um quadro em repleta escuridão e a frase eu sou Aranha em destaque- A evolução de Kraven chega ao fim da primeira fase. Temos kraven pela cidade na pele do Homem Aranha e nisso a evolução continua mas em outra área: Kraven agora entende que há uma dualidade pois ele a experimenta... Ele consegue ver que há algo além da criatura e nela há o "homem debaixo da máscara" e ele expõe isso e passa a mostrar o homem e a fera como sendo duas coisas distintas mesmo sendo o mesmo elemento.
O HOMEM ESTÁ CONFUSO ...MAS A ARANHA COMPREENDE " e ele fala mais " ESTA NOITE EU FINALMENTE VI QUE ATÉ MESMO O HOMEM QUE HABITA A ARANHA É IGNORANTE DO MAL NA CRIATURA POBRE HOMEM POSSUÍDO PELA ENTIDADE RESPONSÁVEL POR TANTO SOFRIMENTO ... PELO CAOS MUNDIAL E ELE NEM MESMO SABE DISSO
Kraven concluiu a sua missão e no capitulo 4 da história é a vez do Homem Aranha passar pela sua evolução, ter seu encontro consigo mesmo e tal como Kraven ter a sua essência revelada.Peter inicia a sua jornada e se vê exposto aos seus medos, Temos a presença de Ned Leeds que havia morrido no primeiro capitulo da história voltando a representar o medo da perda ,da morte e trazendo em si a marca da humanidade daquilo que é perecível.
E mais uma vez vemos a Senhora ARANHA como " a fera" mas ao contrario do que ocorre com o Kraven, Peter é a Aranha e precisa se libertar e consegue. Ele rasga a aranha e sai dela Para ser Peter a sua fraqueza e a sua força.
3- A CONSUMAÇÃO: ESSÊNCIA REVELADA
Kraven triunfou e concluiu a sua missão ele passou a entender a dualidade existente e queria que Peter o Homem também provasse e se libertasse como ele mesmo se libertou, Ele lutou contra a sua Aranha - a sua fera interior e agora teve a sua honra restaurada ele se tornou humano, e mais ele se tornou uma melhor versão de si mesmo- Seu plano finalmente estava finalizado e ele podia ter a paz que nunca teve.
No contraponto temos também um Peter que reconhece a sua humanidade, que levantou do tumulo que vivenciou seus maiores medos- A Morte e o encontro com seu lado mortal. Temos exposto por Dematteis as essências de seus personagem após uma viagem em seus interiores, vimos o bem e o mal atuando sobre eles.
Nos últimos quadros Após a luta do Homem Aranha com o Rattus Kraven o Homem que triunfou, pega o homem Aranha e o deixa ir para continuar a sua jornada e ir atrás de Rattus porque ele sabe que agora está completo e mesmo que o Homem Aranha não entenda o significado daquilo para o nosso antagonista não importa pois ele já havia obtido o que buscava- A Sua Rendenção e o Seu Triunfo.
Essa não era uma jornada apenas para o Homem Aranha o tempo todo esta história era mais sobre Kraven, a restauração da sua Honra envolvia tornar-se a criatura mais terrível e temível e vencê-la encontrando o homem que havia nele, a bondade adormecida e consequentemente a paz.
Esse quadrinho todo fala dessa terrível simetria do bem e do mal, do insano e aquilo que é são convivendo ali junto, O homem e a fera coexistindo a necessidade de ambos estarem juntos pois é preciso haver o mal para que haja o bem.
Ele traz a reflexão do mergulho do homem em si mesmo, para conhecer seus medos e identificar, se o seu medo é a fera lute contra ela, se torne a fera para vencer a fera. Se o medo é conhecer a sua humanidade seja o humano pois isso é a sua fraqueza e força. Mergulhe em si mesmo e seja você.
OS PERSONAGENS :
A história apresenta vários personagens, mas deixa três em destaque cada um com a sua história para contar, cada um traz em si a marca da dualidade e de maneira esplendida que se comunicam muito bem e se amarram ao poema.
Quem são esses personagens e seus papéis ?
- RATTUS:
Exploradores lhes dou a Fera, a intenção de Dematteis fica clara aqui quando vemos o passado do personagem que ele mesmo criou mas foi para um outro momento e para outra historia mas que veio muito bem a calhar. Ele é a perfeita representação daquilo que Blake chama destaca em seu poema, o horror, a fera indomável e que habita o mundo, que traz o medo e o arrepio e deixa a dúvida de que essa criação foi feita pela mesma coisa que fundou o belo " O que te fez, fez o Cordeiro? " mas sabemos que Blake trabalha a proposta da coexistência do bem e do mal, assim como Rattus : ele é inocente, ele não sabe que o que faz é errado ele segue a sua natureza e seu instinto, ele é todo fera ou pelo menos era isso que pensávamos antes dessa cena da Lambida- Em Rattus há o homem e a natureza humana se revela também. Ele vê na Policial a mãe, não sabemos porquê mas a voz e a pele são elementos que lhe apertam o gatilho e acorda a sua humanidade- A fera assassina é capaz de amar e ele tem mãe - e o que é mais humano do que o amor e a afeição, e ser guiado por essas forças ? A fera foi domada pela sua própria humanidade e a sua natureza pelo menos momentaneamente freada- mas ela estava lá na forma de manifestar esse amor - A lambida marca que a fera estava presente apesar do humano estar atuando como central, que trabalho bem feito!
- KRAVEN - SERGEI KRAVINOV
- HOMEM ARANHA :
Tigre! Tigre! brilhando em brasas
Na noite fechada da mata,
Que mão imortal poderia
Forjar tua feroz simetria?
Em qual abismo ou céu remoto
Ardeu o fogo dos teus olhos?
Em que sopro ele ousou seu voo?
Que mão ousou moldar o fogo?
Em qual ombro, que artesão,
Fez as fibras do coração?
Quando deu seu primeiro pulso,
Que mão temível foi o impulso?
Com que corrente? Que martelo?
Que forno forjou o teu cérebro?
Que bigorna? Com que tenaz
Prendeu teus terrores letais?
Quando os astros lançaram raios,
E o céu alagaram de lágrimas,
Ele sorriu ao ver seu feito?
O que te fez, fez o Cordeiro?
Tigre! Tigre! brilhando em brasas
Na noite fechada da mata,
Que mão imortal poderia
Forjar tua feroz simetria?
– William Blake
Esse é o poema de que tanto foi falado e explorado por nós, trouxe ele com a intenção de que você possa conhecer e tirar dessa leitura as suas conclusões e claro as suas reflexões. Espero que tenha sido útil e promovido essa viagem!
Bem espero que esse blog tenha te ajudado de alguma forma ou pelo menos tenha trazido alguma reflexão, se gostou curta e compartilhe e claro deixe seu comentário aqui no post ! E se está história te tocou ou te trouxe outra reflexão compartilhe aqui com a gente para que possamos explorar outros campos^^
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